quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Unidade XXVII: A América Latina no século XX

A América Latina no século XX

México (A Revolução de 1910)
    
“Quando se estabelecer a Nova República, não mais haverá exércitos no México. Os exércitos são os maiores apoios da tirania. Não pode haver ditador sem seu exército”.                          
                                                                             [ Pancho Villa, in México Rebelde de John Reed pag. 121)
     A Revolução ocorrida no México é tratada como uma Revolução Camponesa. Entretanto, em nenhum momento  coube as lideranças populares ocuparem o poder, Emiliano Zapata e Pancho Villa líderes do campesinato defenderam uma via reformista e conciliada que não exigia a presença deles no poder.
     Em 1910 era presidente mexicano o General Porfírio Diaz no poder desde 1876 utilizando práticas autoritárias e apoiando-se nas elites proprietárias. Ao longo desses 35 anos o Porfiriato, como ficou conhecido o período do general no poder, favoreceu a concentração de terras, a exploração da mão de obra indígena em sua maioria formada por indivíduos analfabetos, facilitou também o ingresso de capitais estrangeiros, em particular norte americano, na exploração mineral, no incipiente setor industrial, no setor dos bancos e na exportação de produtos.
     Nesse ano realizou-se mais uma eleição para a Presidência da República, nessa oportunidade foi apresentada a candidatura de oposição à reeleição General Diaz, de Francisco Madero, que tinha apoio de setores populares e do Movimento Camponês, particularmente de Pancho Villa. Ao longo da campanha, Madero foi preso sob a acusação de crime político, inviabilizando qualquer possibilidade de vitória no pleito. Novamente eleito presidente o General Diaz enfrentou uma onde de protestos das classes populares camponeses, greves urbanas. Essas manifestações foram articuladas por Madero exilado no Texas com as lideranças camponesas pelo Pacto de San Luis.
     Foi nesse momento que emergiram as lideranças camponesas de Zapata e de Villa. Zapata no sul, através do Plano Ayala tornou-se um defensor da devolução das terras aos índios dentro ou fora da lei. Pancho Villa no norte do país juntou-se a Zapata para juntos defenderem a Reforma Agrária sob o lema Tierra y Libertad.
     A pressão do movimento camponês levou o general Diaz a uma  renúncia negociada e a formação de um governo de transição, até a realização de novas eleições. Esse governo foi ocupado por Francisco Madero. Posteriormente eleito presidente, Madero ocupou o poder até 1914, ano em que foi assassinado por um golpe militar liderado pelo General Victoriano Huerta, cujo nome estava ligado ao do general Porfírio e aos interesses britânicos. Imediatamente os camponeses liderados por Zapata e Villa voltaram às manifestações. A pressão popular levou Huerta à renúncia. Vale ressaltar que os Estados Unidos sob governo Woodrow Wilson não deram apoio ao golpe e cortaram a venda de armas ao país.
     Com a saída de Huerta, buscou-se uma solução conciliada entre os camponeses e as elites, que chegou ao nome de Venustiano Carranza, nome apoiado pelos Estados Unidos. Em 1917 uma nova Carta Constitucional foi promulgada. Nela estava previsto o direito do Estado de desapropriar terras para fins de reforma agrária, também constava uma Legislação Social (leis trabalhistas) reivindicada pelos movimentos populares e o controle do Estado sobre o subsolo. A Constituição tinha uma cara reformista e moderadamente nacionalista.
     A Constituição não foi garantia para a realização da reforma agrária, o que incentivou frequentes manifestações camponesas. Entretanto, com os assassinatos de Zapata em 1919 e de Villa em 1923 essas manifestações se enfraqueceram, permitindo às elites mexicanas, através do PRI (Partido Revolucionário Institucional), ocuparem o poder ao longo de quase todo o século XX, exceto no breve período de 1934/1940, que o México teve um governo de cunho nacionalista e reformista do presidente Lázaro Cárdenas. Cárdenas promoveu um avanço na distribuição de terras e adotou uma política nacionalista, que resultou na criação da Pemex (Cia estatal de petróleo do México).
     Nos anos 1990 reacendeu-se a luta camponesa no país, coma formação do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), instalado na região de Chiapas no sul do México, que representa a retomada da incansável luta dos camponeses pela REFORMA AGRÁRIA.


A Revolução Cubana (1959)

     Em meio a Guerra Fria, em 1959 instalou-se na América Latina, embaixo do nariz dos Estados Unidos, o governo revolucionário cubano após uma árdua luta dos jovens barbudos contra a ditadura de Fulgêncio Batista, sob a liderança de Fidel Castro e com uma extraordinária participação do jovem médico argentino Ernesto Guevara de La Senra, o Chê. Em abril de 1961, definiu-se a opção cubana pelo socialismo e pelo alinhamento à URSS, a Guerra Fria chegava à América Latina.

Antecedentes
     Em 1898 após décadas de luta contra o domínio espanhol, Cuba tornou-se independente. Entretanto, a vitória da luta de libertação contou com apoio dos Estados Unidos através da Guerra Hispano Norte Americana no Caribe e isso custou aos cubanos a assinatura de um acordo, que se tornou parte integrante da Constituição Cubana, a Emenda Platt. Por ela os Estados Unidos passaram a ter o direito de intervir na Ilha em nome da democracia, da liberdade, da justiça social e da segurança. Além disso,  os Estados Unidos passaram a ter o direito de preferência na compra do açúcar de Cuba e também obtiveram a cessão do território, em regime de aluguel, para a instalação da Base Militar de Guantánamo. Desse modo Cuba tornou-se um Protetorado norte americano, uma área satélite.
     Na década de 1930, numa onda de nacionalismo que varreu o mundo, a Emenda Platt foi revogada. Entretanto, isso não implicou tirar Cuba da órbita dos Estados Unidos, a dependência econômica e a influência política se mantiveram, sobretudo, com a ascensão de Fulgêncio Batista, inicialmente eleito em 1940 e posteriormente, em 1952, ao participar de um Golpe Político. No período em que esteve a frente do governo cubano, Batista tornou-se subalterno aos interesses norte americanos e levou o país a se tornar um verdadeiro quintal dos EUA. 
     Após a Segunda Guerra Mundial, Cuba tornou-se uma área de investimento e de entretenimento da burguesia norte americana, que investia em atividades econômicas e explorava a mão de obra dos cubanos. Daí serem, na época,  flagrantes os efeitos sociais dessa dependência, em que se verificou um quadro de miséria, de analfabetismo e de prostituição de jovens cubanos.

O processo revolucionário

    Em 1953, sob a liderança de jovens da classe média, teve início o movimento de luta contra a ditadura Batista. Em 26 de Julho ocorreu a tentativa de tomada do Quartel de Moncada. O fracasso provocou a morte de muitos integrantes, outros foram presos como os irmãos Fidel e Raul, que posteriormente foram para o exílio no México. Em 1956, a bordo do barco Granma, cerca de 80 integrantes do movimento revolucionário voltaram à Cuba para retomar a luta política, entre eles Fidel, Raul, Camilo Cienfuegos, Juan Almeida, Ramiro Valdés, Francisco Medina e o jovem argentino Chê Guevara. Ao retornarem os revolucionários sofreram um novo revés, que os reduziu a um número, mais mítico do que real, de 20 homens.
     Entre 1956 e 1º de janeiro de 1959 foi retomado e finalizado o movimento revolucionário, cuja vitória deve muito à participação dos setores populares como camponeses, jovens e mulheres e a organização do foco revolucionário de Sierra Maestra.

Eu sei que o mundo pensa de nós, somos comunistas, e, claro, eu tenho dito muito   claramente que não somos comunistas, muito claramente.    [ Fidel Castro após uma visita à Washington]
  
     Em 1º de janeiro de 1959 instalou-se o governo Fidel e com ele o início das reformas sociais como a Reforma Agrária, a Reforma Urbana, a nacionalização da economia, a política de combate ao analfabetismo, à miséria e à prostituição essas últimas, com certeza as maiores mazelas do povo cubano.

     Entretanto, os governos norte-americanos de Dwight D. Eisenhower (1952/1960) e de seu sucessor John Fitzgerald Kennedy (1960/1963), reagiram duramente ao novo governo cubano, através de medidas como: boicote ao açúcar em 1960, o patrocínio a invasão à Baía dos Porcos em 1961, a suspensão do governo de Cuba da OEA em 1962 e o decreto de embargo econômico em 1962.

Cuba foi suspensa da OEA em 31 de janeiro de 1962, após o seu governo declarar o caráter socialista da Revolução Cubana e se aliar à URSS. Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador e México se abstiveram. A decisão se fundamentou na concepção de que o marxismo-leninismo era incompatível com o sistema interamericano e representava uma ameaça a unidade do continente
 A pressão dos EUA foi compensada pela cooperação soviética. A URSS passou a comprar o açúcar cubano e a fornecer petróleo a preços preferenciais. Foi isso que possibilitou aos cubanos os consideráveis avanços nos campos da Educação, Esportes e da Medicina. Por outro lado, esse alinhamento à URSS foi responsável pelo momento de maior tensão da Guerra Fria, a Crise dos Mísseis de 1962 (já abordada em unidade anterior). A partir da ascensão de Mikhail Gorbatchev na URSS, Cuba passou a enfrentar uma série de dificuldades em razão do corte na cooperação soviética e ampliadas com o fim da URSS em 1991. O herdeiro político da URSS, Boris Ieltsin não sinalizou com a possibilidade de manter a política de sustentação à Cuba, como ocorria em tempos soviéticos.

                                   Cuba após a Guerra Fria
Mudanças econômicas, nova agenda diplomática e o limitado diálogo com os EUA
Cuba passou por muitas transformações após a Guerra Fria. A economia está mais diversificada e o país logrou escapar do isolamento internacional, estabelecendo parcerias com China, União Européia e América Latina. Além disso, a transformação na comunidade cubano-americana coloca em posições de influência ativistas mais jovens, com maior disposição para o diálogo com os Estados Unidos, inclusive em temas comerciais. Contudo, é difícil que as negociações avancem em pontos controversos, pela relutância de Havana em liberalizar o regime político.
(Revista Brasileira de Política Internacional) 


Chile (a experiência socialista)

     Em 1970, após três sucessivas derrotas eleitorais, Salvador Allende elegeu-se Presidente do Chile como candidato de uma frente de esquerda, a Unidade Popular. A presidência de Allende foi marcada por uma política de socialização da economia, que se baseava na nacionalização das reservas minerais do cobre e do salitre, dos bancos e adoção de um programa de reforma agrária. Entretanto, vale ressaltar o compromisso de Allende de construir um socialismo democrático e pluripartidário.
     Ao longo dos seus três anos de governo, Allende enfrentou a oposição dos empresários chilenos, que pressionaram o governo com a redução do abastecimento o que pressionou a inflação, elevando-a a quase 400% em 1973. Além disso, a pressão norte-americana também recaiu sobre o governo Allende através do boicote comercial, agravado com o decreto de embargo econômico, e com a articulação da CIA com os setores chilenos, entre os quais os militares, para a deflagração do Golpe Militar de 11 de setembro de 1973. A vitória dos golpistas resultou na instalação da ditadura do General Augusto Pinochet.
     Entre 1973 e 1989 o Chile experimentou uma ditadura, que provocou milhares de prisões, de desaparecidos e de mortos, todas elas vítimas da repressão do governo Pinochet. Em seus dezesseis anos de poder Pinochet suspendeu os partidos políticos, extinguiu as eleições, suprimiu a liberdade de expressão adotou uma política econômica neoliberal na qual desnacionalizou a economia como desejavam os Estados Unidos sob o governo republicano de Richard Nixon.
     Em 1988, apoiado nos números da economia, o General Pinochet propôs a realização de um plebiscito, no qual ele pedia ao eleitor chileno o direito de permanência no cargo por mais 8 anos. Entretanto, a resposta da sociedade chilena foi um rotundo NÃO. 
     Derrotado no plebiscito Pinochet não pode evitar o reingresso do Chile à democracia. Mas antes de passar o poder ao presidente eleito Patrice Aylwin, ele atribuiu a condição de senador vitalício de modo a se beneficiar da imunidade parlamentar.

Nicarágua (A Revolução Sandinista de 1979)

     Em julho de 1979, caiu uma das mais longevas ditaduras da América Latina, a da Família dos Somozas na Nicarágua. Os Somozas estiveram no poder de 1934 até a vitória da Frente Sandinista de Libertação Nacional, que os derrubou após 18 anos de luta.
     A Nicarágua, na primeira metade do século XX, sofreu duas intervenções norte americanas baseadas no Big Stick. Foi nessa conjuntura, que nos anos 1920 emergiu a liderança de Augusto César Sandino líder camponês e nacionalista, responsável pela resistência a ocupação norte-americana. Após a saída das forças de intervenção, Sandino foi assassinado por ordem do comandante da Guarda Nacional Anastácio Somoza Garcia, o que deu início a longa ditadura somozista.
     Em 1961, inspirados na Revolução Cubana, jovens nicaraguenses e marxistas criaram a FSLN e deram início à luta contra a ditadura. Em 1978 a morte do líder liberal e proprietário do Jornal La Prensa Pedro Joaquim Chamorro, provocou uma onda protestos e greves, que pressionaram o governo Anastácio Somoza Debayle e favoreceram a tomada de poder pelos Sandinistas, com a tomada do Palácio Presidencial em Manágua.
     Na fase sandinista, a Nicarágua passou por mudanças como: a substituição da Guarda Nacional pelo Exército Popular Sandinista; a desapropriação de terras para reforma agrária; a política de combate ao analfabetismo; a política de saúde; aproximação com os países socialistas e, sem nenhuma surpresa, o distanciamento dos Estados Unidos.
     Entretanto, na década de 1980 os sandinistas enfrentaram uma Guerra Civil protagonizada pelos Contras, formados por velhos integrantes da Guarda Nacional, estes apoiados pelo governo norte-americano de Ronald Reagan, que transferiu grande soma de recursos financeiros para financiar os Contras.
     Em 1984 os sandinistas promoveram eleições em que Daniel Ortega foi eleito presidente com 60% dos votos. Entretanto, além do boicote da oposição, o resultado eleitoral não foi reconhecido pelos Estados Unidos o que não criou um ambiente de pacificação do país. A pressão sobre os sandinistas, o quadro de paralisia econômica e a inflação crescente, foi decisivo para a derrota de Daniel Ortega frente a candidatura oposicionista  de Violeta Chamorro da União Nacional de Oposição e viúva de Pedro Joaquim Chamorro.

Argentina (o Peronismo 1945/1955 – 1973/1974)

     Em junho de 1943, houve um golpe militar contra o governo Castillo (representante da oligarquia argentina) promovido pelo grupo da Obra da Unificação ou Grupo dos Oficiais Unidos, constituídos por jovens oficiais simpatizantes do fascismo. Entre eles estava o coronel Juan Domingo Perón, filho de pecuarista.
     No governo que se instalou sob a direção de Pedro Ramirez, Perón ocupou a Pasta do Trabalho e do Bem-Estar Social na qual defendeu a formação de sindicatos, a criação da Previdência Social, o aumento dos salários e a criação das leis sociais ou trabalhistas. Acusado de agir de forma demagógica foi afastado do governo e sofreu uma prisão disciplinar. Entretanto, uma grande manifestação popular na Praça de Mayo pressionou o governo a libertá-lo. Estima-se que a manifestação organizada por Eva Perón reuniu cerca de 300 mil pessoas. Eva Perón, esposa do Coronel se transformou no ícone da política assistencialista do governo populista de Perón.
     Fora da prisão Perón criou o Partido Lavorista, que se tornou um verdadeiro furacão nas eleições de 1946. Perón elegeu-se presidente e o partido elegeu a maioria dos governadores de Províncias e fez maioria no Poder Legislativo.
     De 1946 a 1955 Perón cumpriu seus primeiros mandatos. Nos primeiros anos dentro da euforia econômica provocada pelas exportações de carne e de cereais para a Europa recém saída da II Guerra Mundial. Foi nesse período, que o Estado, utilizando a receita gerada pelas tarifas de exportação, investiu na infra-estrutura e também na nacionalização de empresas de eletricidade, água, gás, telefonia e ferrovias (segundo seus adversários políticos, Perón pagou verdadeiras fortunas por verdadeiras sucatas) mas, por outro lado a exploração do petróleo foi entregue ao capital externo, essa decisão teria sido pressionada pelo déficit da Balança Comercial  e pelo endividamento externo no seu segundo mandato.
     Em busca de uma base de sustentação política, Perón adotou alguns procedimentos como: neutralização na relação capital-trabalho e a criação do Estado Justicialista, ou seja, promotor da justiça social através das leis sociais, do programa de habitação e de investimentos em educação. Ao mesmo tempo, sob a conduta de Eva Perón à frente da política social, Perón foi divinizado (só há um Perón, ele é um Deus para nós, nosso sol, nosso ar,  a nossa vida...). Eva Perón foi transformada em protetora dos descamisados argentinos. Para homenageá-la empenhou-se pela adoção do voto feminino.
     Com essa visão de justiça e de apoio aos anseios dos trabalhadores, Perón criou uma importante base de sustentação sindical através da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) dirigida por pelegos, que em troca de benefícios, garantiam a disciplina no trabalho e a passividade dos trabalhadores. Em 1949 Perón conseguiu a promulgação de uma nova Constituição, que admitia a prática da censura, que proibia a ocorrência de greves, abrindo caminho para a coerção da oposição, em particular dos comunistas.
     Nos anos 1950, a euforia econômica deu lugar a crise. As exportações caíram, pois a Europa diminuiu suas compras e a Argentina passou a enfrentar a concorrência da Austrália e do Canadá. Com isso a pressão sobre Perón aumentou, de um lado os descamisados em razão do aumento do desemprego do outro lado os empresários e latifundiários em razão da inflação da queda da economia. Se não bastasse isso, Perón perdeu a sua mais importante aliada. Em 26 de julho de 1952 morreu Eva Perón, vítima de câncer, aos 33 anos e se indispôs com a Igreja Católica ao apoiar a Lei do Divórcio.
     Nesse quadro politicamente contrário, Perón tentou contra atacar, disparando contra os Estados Unidos, acusando-os de estarem conspirando contra a Argentina e apoiando os inimigos do governo. Nesse ambiente convocou os descamisados para se juntarem a ele contra as elites, apresentadas como inimigas do povo e ameaçou adotar o nacionalismo econômico contra os interesses internacionais. Os Estados Unidos reagiram apoiando os grupos internos, na articulação de um Golpe de Estado liderado pelo general Aramburu. Aparentemente se fechava o ciclo peronista. Puro engano.
     De 1955 a 1973 Perón esteve no exílio na Espanha do Generalíssimo Francisco Franco (coincidência?). Enquanto isso a Argentina enfrentava uma fase de governos militares, nem sempre legalistas. Ao mesmo tempo, surgiu dentro do peronismo o movimento radical de esquerda, os Montoneros não obedientes a Perón, que pregavam a luta armada contra o regime.
     Em 1973 a Argentina experimentou uma redemocratização com a marcação das eleições livres e diretas. Nesse novo pleito, os peronistas apresentaram a candidatura de Hector Câmpora, cujo slogan de campanha era “Câmpora no governo, Perón no poder”. Demonstrando força os peronistas venceram, Câmpora elegeu-se Presidente. Como uma crônica anunciada, Câmpora governou de 25 de maio a 13 de julho de 1973. No curto período que ocupou a Casa Rosada, ele anistiou os presos políticos, promoveu aumento salariais e congelamento de preços, o que provocou uma queda considerável da inflação. Com sua renúncia, foi convocada uma nova eleição da qual Perón com seus direitos políticos restabelecidos pode participar. Perón foi candidato à Presidência da República, tendo sua esposa Maria Estela Martinez de Perón, a Isabelita.
    Perón foi eleito com 62% dos votos, mas com a saúde muito frágil, faleceu em 1974 em 1 de julho. Isabelita foi empossada no mesmo dia e governou a Argentina até 24 de março de 1976, em que foi deposta por uma Junta Militar. Esse golpe não surpreendeu, porque Isabelita foi acusada de não ter liderança e capacitação para conduzir os destinos da Argentina.
     Entretanto, a despeito das desconfianças da competência de Isabelita, no seu curto governo a Argentina teve crescimento econômico, queda da inflação, aumento de salário e das pensões e ampliação da licença maternidade, ela se conduzia como Perón agiria se estivesse vivo.  Não por acaso ela teve um grande apoio popular. Mas isso não impediu o Golpe liderado pelo General Jorge Rafael Videla.
     Entre 1976 e 1983 a Argentina experimentou uma ditadura militar nos moldes da brasileira ou da Chilena, ou seja, supressão da liberdade de expressão, dos partidos políticos, dos sindicatos, das centrais sindicais e das eleições. Além disso, a exemplo das ditaduras vizinhas, na Argentina a repressão foi intensa com as prisões, a tortura, as execuções e os sequestros de crianças, filhas das mulheres e homens que participavam da luta armada contra o regime.
      Ao longo desses 7 anos organizou-se o Movimento das Mães da Praça de Mayo. Mulheres que se reuniam diariamente na praça para reclamar notícias sobre seus filhos desaparecidos. A medida que as manifestações contra a ditadura recrudesciam, os militares exaltaram o nacionalismo, invocando o direito argentino sobre as Ilhas Malvinas, desde 1833 sob domínio britânico. Segundo os militares argentinos, as Malvinas constituem parte indivisível da Argentina ocupada por invasores. De abril a Junho de 1982 ocorreu a Guerra das Malvinas ou Guerra do Atlântico Sul entre a Argentina e o Reino Unido. A guerra terminou evidenciando a supremacia britânica e provocando a morte de 907 pessoas entre argentinos e britânicos. A Guerra teve repercussão tanto entre os argentinos quanto entre os britânicos. Na Argentina aumentou a pressão sobre a ditadura. No Reino Unido, a vitória contribuiu para a vitória dos Conservadores liderados por Margareth Thatcher.
     Em 10 de dezembro de 1983 era finalizado o processo de transição para a democracia com a posse do Presidente Raul Alfonsín da UCR (União Cívica Radical) eleito democraticamente. Assim terminava um período sombrio da história argentina, que vitimou milhares de pessoas utilizando métodos de execução em massa como nos famosos vôos da morte.

Bolívia (Um indígena e cocaleiro na presidência)

     A Bolívia um das mais pobres países da América Latina iniciou, em 2005, uma mudança de rumos com a eleição de Evo Morales, candidato do Movimento ao Socialismo (MAS). Em seu primeiro mandato, há poucos dias ele foi reeleito pela segunda vez, Evo, cumprindo promessa de campanha nacionalizou as reservas de hidrocarbonetos, decisão que atingiu a Petrobrás presente na extração mineral boliviana.
     Além disso, também iniciou a política de reforma agrária. Com relação da produção de coca pelos indígenas, a posição de Evo Morales é muito clara, para ele “folha de coca não é droga”, mascá-las é uma tradição indígena.


     Embora o tráfico de drogas seja um problema internacional, a nova posição assumida pela Bolívia devolve aos mercados consumidores de drogas o problema ocasionado pela apropriação, para fins ilícitos, de uma planta de uso tradicional - a coca.
     Segundo Morales, "haverá zero cocaína, zero tráfico de drogas, mas não zero coca." Assim, a posição do governo boliviano é de que os costumes indígenas não devem ser afetados pela política de repressão ao tráfico de drogas.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Unidade XXVI - A África após 1945

A África após 1945

O processo de descolonização

Os fatores de influência

- a propagação do princípio da autodeterminação das nacionalidades, que embasou o processo de desmembramento dos impérios europeus após a Primeira Guerra Mundial;

- o surgimento de lideranças nacionalistas, que atuaram como canalizadores do sentimento da nacionalidade e mobilizando o povo em torno do projeto emancipacionista;

- o enfraquecimento das potências colonialistas em razão da Segunda Guerra Mundial, o que as deixou sem condições de impedir o avanço da descolonização;

- o apoio recebido das nações reunidas em Bandung em 1955;

- o interesse das superpotências em ampliar suas áreas de influência, o que as levou a apoiar os movimentos de libertação das colônias. O risco neste caso foi o fato de as duas superpotências apoiarem grupos distintos dentro de um mesmo país, o que concorreu para as frequentes guerras civis no continente africano.

As vias de libertação

- a via negociada ou pacífica:
 nela o colonizador admitiu reconhecer a independência da colônia de modo que os vínculos econômicos, políticos e culturais ficassem preservados. Dessa maneira a independência não representa uma ruptura total com a antiga metrópole. Essa prática os ingleses utilizaram-na de modo a integrar suas ex colônias em membros da Commonwealth (Comunidade Britânica). Os franceses, em menor escala, também buscaram construir uma comunidade francesa com suas ex colônias.

- a via violenta: nela o colonizador ofereceu resistência à emancipação de suas colônias, conduzindo o processo irremediavelmente a uma guerra de libertação. Nesse caso há uma ruptura real dos laços entre a ex colônia e a ex metrópole.

- a via revolucionária: ela representa um desdobramento da via violenta e traduz a opção pela via socialista por parte do movimento de libertação.



O estudo de casos africanos

Argélia

     Entre 1954 e 1962 transcorreu a Guerra da Argélia entre o movimento nacionalista (Frente de Libertação Nacional) argelino liderado por Ahmed Ben-Bella e o Estado Francês. Essa guerra decorreu do fato de a França não admitir a emancipação argelina, proclamada em 1954. Para a França a independência da Argélia era interpretada como separatismo, aja vista que o Estado Francês classificava a Argélia como um Departamento, ou seja, uma unidade territorial e política francesa. Por outro lado, havia na Argélia uma elite francesa, os pied-noirs, que, com o apoio da extrema-direita francesa, pressionou o governo da França para não aceitar a emancipação dos argelinos.
     O conflito foi marcado por ações de violência de ambos os lados. A Frente de Libertação levou a guerra para dentro do território francês, ao promover sucessivos atentados, o que deixou o povo francês assustado e favorável a emancipação. Em 1958, os franceses recorreram ao General Charles De Gaulle, comandante do exército da França-Livre na Segunda Guerra, para ocupar o cargo de 1º ministro apostando na sua capacidade de comandar a vitória francesa. Entretanto, De Gaulle, eleito posteriormente Presidente, entendeu que o melhor caminho era o acordo de paz. Respaldado num plebiscito, De Gaulle negociou com Ben-Bella o Acordo de Evian em 1962, no qual a Argélia se tornava um Estado independente.
     Chama atenção o fato de que a elite pied-noir e a extrema direita, frustradas pela independência argelina, patrocinaram uma Organização Terrorista (Organização do Exército Secreto –OES-) cujo propósito inicial era o de inviabilizar o entendimento, chegaram até mesmo a  organizar um fracassado atentado contra De Gaulle.

Congo

     Ex colônia belga, a atual República Democrática do Congo, que já se chamou República Popular do Congo e República do Zaire, se tornou independente em 1960 através de uma negociação entre o movimento de libertação e o governo belga. Entre 1961 e 1963 o país atravessou uma guerra civil, que envolveu o governo nacional formado por Joseph Kasavubu e Patrice Lumumba e as forças separatistas lideradas pelo governo da Província de Catanga de Moisé Tshomb.
     A guerra civil traduziu não apenas a posição separatista de Catanga, mas também os interesses das mineradoras internacionais, que foram atingidas pela nacionalização das reservas minerais decretado pelo governo Kasavubu-Lumumba. Durante o conflito Lumumba deixou o governo e, de forma pouco esclarecida, foi seqüestrado e morto pelos rebeldes separatistas de Catanga. Em 1963 foi assinado um acordo de paz entre Kasavubu e Tshomb, em que este acabou indicado 1º ministro. Entretanto, em 1965 o país passou por um Golpe Militar liderado pelo Coronel Mobutu Seko com o apoio do governo norte americano (Lyndon Johnson), que instalou uma ditadura violenta e corrupta até 1997. Foi o Coronel Mobutu o responsável pela adoção do nome de República do Zaire em 1972.

 Nigéria

   
A ex colônia britânica obteve a independência no início da década de 1960 e emancipada ingressou na Commonwealth, de modo que, os laços políticos e econômicos com a Inglaterra foram mantidos, inclusive a presença de petrolífera britânica atuando no país.
     Em 1967 a Nigéria começou a enfrentar uma violenta guerra civil, que se estendeu até 1970. Esse conflito conhecido como Guerra Nigéria-Biafra ou apenas Guerra de Biafra, decorreu da tentativa da região de Biafra de se tornar independente do Estado Nigeriano. Essa guerra foi uma das mais violentas na África, com milhares de mortes provocadas pela fome, cujas imagens eram transmitidas para o Ocidente. A Guerra de Biafra terminou com o recuou separatista dos Ibos (tribo dominante na região) e a preservação da unidade nacional nigeriana.


A África Portuguesa

     As colônias portuguesas na África (Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) obtiveram a independência em 1975 após a vitória  da Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974 contra o Salazarismo. Essa conquista traduziu a participação do movimento nacionalista nas colônias na luta contra a ditadura salazarista após a Segunda Guerra Mundial. Com relação ao processo de emancipação vale ressaltar, que em Angola e em Moçambique, após terem sua independência reconhecida pelo governo português instalado após a Revolução, enfrentaram guerras civis em seus territórios nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Essas guerras repercutiram a falta de unicidade política e ideológica nas várias correntes, que compuseram o movimento nacionalista angolano e moçambicano. Se não bastasse isso, essas guerras repercutiram também a polarização ideológica que marcava a Guerra Fria, logo a rivalidade entre o capitalismo norte americano e o socialismo soviético.

(1975/2002) A Guerra Civil Angolana

     Em 1975 através do Acordo de Alvor Angola foi reconhecida como país independente. Entretanto, na luta pela libertação formaram-se três grupos: MPLA, FNLA e UNITA. A impossibilidade de constituir um governo de unidade provocou uma disputa entre as lideranças o que levou os grupos a serem protagonistas de uma guerra civil.
     O MPLA liderado por Agostinho Neto instalado em Luanda se apresentou como representante do poder, o que não foi reconhecido pela FNLA liderada por Holden Roberto, como também pela UNITA sob o comando de Jonas Savimbi, daí o início da guerra civil.
     O MPLA contou com apoio de Cuba, da mesma forma que a FNLA teve a ajuda do Zaire do Coronel Mobutu e contou com a ajuda material de Londres e de Washington. Por outro lado a UNITA recebeu todo o suporte do regime do apartheid sul africano e dos EUA e do Reino Unido.
     O fim da Guerra Fria no final dos anos 80 teve forte influência no cessar fogo firmado em 1992 e no acordo para realização de eleições. Entretanto, o líder da UNITA derrotado nas eleições presidenciais não concordou com o resultado e decidiu retomar a luta armada contra o governo do MPLA de José Eduardo Santos, que substituíra Agostinho Neto morto em 1979 e que foi eleito presidente em 1994. A morte de Jonas Savimbi em 2002 foi decisiva para assinatura do acordo de paz. 


(1975/1992) A Guerra Civil Moçambicana

     Moçambique teve uma situação muito similar a de Angola, pois com a independência reconhecida em 1975, não foi possível formar um governo de união nacional, porque a FRELIMO de orientação marxista sob a liderança de Samora Machel e com apoio cubano, assumiu a condição de governo nacional o que não foi reconhecido pela RENAMO grupo anticomunista, apoiado pelos governos da África do Sul, da Rodésia e dos EUA. A posição da Renamo foi decisiva para o início da guerra civil.
     Em 1992 na conjuntura pós Guerra Fria, foi assinado o Acordo Geral de Paz, que pôs fim a guerra civil e que transformou a FRELIMO e a RENAMO em partidos políticos.





       
 O envolvimento da África do Sul nas guerras civis angolana e moçambicana

     O apoio oferecido pelo governo racista do Apartheid aos grupos  que combatiam o MPLA em Angola e a FRELIMO em Moçambique, deveu-se ao fato de:

- serem ambos os governos comunistas;

- por darem apoio à Frente de oposição ao Apartheid no continente africano;

- por oferecerem ajuda a SWAPO, Organização Popular da África Sul Ocidental, na luta de libertação da Namíbia, região dominada pela África do Sul,

 


África do Sul e o Apartheid

     A região da extremidade sul do continente africano foi palco do interesse dos europeus desde o século XV, dada a sua posição estratégica na transição do Atlântico para o Índico. No final do século XIX foi teatro de uma guerra entre ingleses e holandeses pelo controle das regiões de diamantes e de ouro do Transvaal e do Orange, a Guerra dos Böers.

     No século XX ali se instalou o mais odioso regime político, o Apartheid. Na África do Sul a minoria branca , formada por descendentes de ingleses e de holandeses institucionalizou a segregação racial, excluindo a maioria negra da condição de cidadania. Pelas leis do Apartheid os negros não podiam ser proprietários de terras, não tinham representação política, deveriam habitar regiões separadas das ocupadas pelos brancos, não podiam se casar com brancos e as relações sexuais interraciais foram consideradas ilegais, A separação física entre brancos e negros se traduziu na criação dos Bantustões, as áreas no interior destinadas as comunidades negras e das favelas localizadas na periferia das grandes cidades como a de Soweto e a de Sharpeville, que constituíram núcleos da resistência dos negros contra o Apartheid.
     Na luta contra o Apartheid destacou-se o CNA (Congresso Nacional Africano) em que despontou a liderança de Nelson Mandela um admirador confesso de Gandhi, que também defendia a via pacífica contra o Apartheid. Entretanto, o assassinato em 1960 de cerca de 70 negros no Massacre de Sharpeville em razão de uma manifestação pacífica contra o regime, mudou os rumos da luta de resistência, que ganhou um tom de maior contundência e de violência. A resposta do governo não tardou: o CNA foi colocado na ilegalidade e Mandela foi capturado e condenado a prisão perpétua.
     Nas décadas de 1970 e 1980 a pressão internacional contra o Apartheid aumentou. Em 1972 a África do Sul foi excluída dos Jogos de  Munique, porque havia uma ameaça de boicote aos jogos pelos países africanos. Em 1977 foi decretado o embargo da venda de armas para a África do Sul. Em 1985 a ONU impôs sansões econômicas à África do Sul. Em 1989 nas eleições sul africanas houve a formação do governo Frederick De Klerk, que deu início a um processo de transição pela via negociada, cujo primeiro passo foi libertar Mandela da prisão, em seguida revogar as leis segregacionistas ratificadas por um plebiscito em que 69% dos brancos votaram a favor. O processo de transição política foi concluído em 1994,  com as primeiras eleições multirraciais, com a vitória de Mandela candidato do CNA.

  
 Em 1993 a Academia Sueca, conferiu a De Klerk e a Nelson Mandela o Nobel da Paz.


        No governo Mandela foi aprovada a Lei dos Direitos sobre a Terra e a criação da Comissão de Reconciliação e Verdade, esta para investigar, esclarecer e denunciar os responsáveis por crimes de tortura e de mortes no período do Apartheid. Esta Comissão foi presidida por uma das mais importantes figuras sul africanas na luta de resistência ao Apartheid, o Bispo Anglicano Desmond Tutu, cuja luta o levou em 1984 a ganhar o Nobel da Paz.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Unidade XXV: O Oriente Médio após 1945


O Oriente Médio após 1945 

Os conflitos árabe-israelenses
 

    Os problemas entre os árabes e os judeus tiveram início no final do século XIX, na década de 1880, em que foi organizado na Europa o Movimento Sionista pelo jornalista Theodor Herzl, cujo propósito foi o de reunir recursos para que o máximo de judeus se transferisse para a região da Palestina, de modo a construir ali o Estado de Israel, ou o lar dos judeus na Terra Prometida ou na Terra de Canaã.
A partir da chegada na Palestina, os judeus formaram suas comunidades (o que deu origem aos kibutzim) e não as abriram para o ingresso dos árabes, ao contrário os judeus tiveram a preocupação de criar uma milícia armada (haganah), utilizada contra os árabes. A situação foi se agravando a medida que aumentava a imigração de judeus, como aconteceu após a Primeira Guerra, sobretudo na década de 1930 em razão da intolerância promovida pelos nazistas do II Reich.

 A Primeira Guerra Mundial e a formação dos Estados Árabes

      Na Primeira Guerra Mundial, em razão da derrota do Império Turco-Otomano houve o desmembramento do império no Oriente Médio e a formação de novos Estados Nacionais. Esse processo foi coordenado pelos britânicos e pelos franceses, nomeados Mandatários e responsáveis pela definição das fronteiras na região. De um modo geral isso foi feito, não obstantes algumas reclamações como a dos iraquianos com relação a criação do Kuwait e dos sírios com relação ao território do Líbano.
     Entretanto, a questão ficou problemática na Palestina isto porque os britânicos tinham um acordo com os judeus, firmado na Primeira Guerra em que os banqueiros judeus financiaram o esforço de guerra britânico e em troca o governo do Reino Unido se comprometia a ajudar na construção de Israel. Mas havia todo interesse econômico britânico (exploração de petróleo) junto aos territórios árabes, o que fez o Reino Unido ficar numa saia justa na Palestina. Daí a solução adotada foi manter o território sob Mandato, ou seja, não foi criado nenhum estado, fosse ele árabe ou judeu.      No entanto, após a Segunda Guerra a pressão pela concessão do território aos judeus aumentou, sobretudo com a revelação de imagens dos fatos ocorridos nos campos de extermínio durante o 2º conflito mundial. Daí a decisão da ONU em 1947 em dividir a Palestina entre os árabes e os judeus.      Após a divisão território, que desagradou os Estados Árabes vizinhos, os judeus se mobilizaram para a construção de seu Estado, o que aconteceu oficialmente em 14 de maio de 1948, sob a liderança de David Ben- Gurion.

 (1948/1949) A 1ª guerra árabe-isralense (Guerra de Independência) 

     No dia 15 de maio de 1948, ou seja, no dia seguinte a fundação de Israel teve início da primeira guerra entre os árabes e o Estado Judeu. Esse conflito teve a iniciativa da Liga Árabe (Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e Egito), cujo propósito era expulsar os judeus da Palestina. Nessa guerra se evidenciou o poderio bélico dos judeus, com a vitória sobre a Liga Árabe. Esse conflito alterou o mapa da Palestina, com a distensão dos territórios controlados pelos judeus. O resultado da guerra levou a ONU a subordinar politicamente a Faixa de Gaza ao Estado Egípcio e a Cisjordânia ao Estado Jordaniano e não fez nada para que Israel se retirasse dos territórios alcançados na guerra, como no caso da Galileia.

 (1956) A Guerra de Suez 

      Esse conflito envolveu o Egito, Israel, a França e o Reino Unido e teve origem na decisão do presidente egípcio Abdel Gamal Nasser de nacionalizar o Canal de Suez até então controlado pelos britânicos e franceses, assim como, promover o bloqueio do Canal de Tiran, acesso ao Porto israelense de Eilath, em que é feito o desembarque do petróleo. 
     Imediatamente os governos de Londres, de Paris e de Tel Aviv promoveram uma ofensiva contra o Egito. Uma guerra só interrompida pela interferência dos Estados Unidos e da URSS. A pressão de Washington sobre a aliança anti egípcia convenceu-a a paralisar a ofensiva. Após o acordo, coube a ONU enviar uma força de paz para o Canal de Suez e outra para Tiran de modo a assegurar a livre navegação em ambos. Apesar do incentivo de Nasser aos palestinos para atacarem Israel, a guerra, ao seu término, não trouxe nenhuma alteração territorial na Palestina.




                                                       O Nasserismo

      Em 1954 o coronel egípcio Gamal Abdel Nasser liderou um golpe de estado que   destituiu o rei Faruk I, derrubou a monarquia e criou a república do Egito. A frente do poder como presidente, Nasser se destacou como uma das mais importantes lideranças presentes na Conferência de Bandung de 1955, portanto como defensor do não-alinhamento, assumiu um nacionalismo econômico que contrariou interesses estrangeiros no país e defendeu com intensidade o pan arabismo, cujo resultado mais expressivo tenha sido uma momentânea união com a Síria, na República Árabe Unida (R.A.U.) criada em fevereiro de 1958 e extinta no final do ano de 1961. Os sírios mostraram-se descontentes com o fato de o poder ter ficado nas mãos do Egito e a Síria colocada num segundo plano.

          Em 1956 materializando o nacionalismo, Nasser nacionalizou o Canal de Suez e a empresa franco-britânica que o administrava. A ação de Nasser provocou a reação de Londres e de Paris, que se aproximaram de Tel Aviv em razão do bloqueio do Canal de Tiran, e assim promoveram uma ofensiva contra o Egito.    

Entre os desdobramentos da guerra, um foi à aproximação mais forte entre o Cairo e Moscou, cujo resultado mais expressivo foi à construção da Barragem de Aswan.    Em 1970, por causas naturais, morreu o Presidente Nasser. O cargo foi ocupado pelo vice Anwar Al-Sadat, que permaneceu no cargo até 1981, distanciando-se das diretrizes nasseristas, assim como da URSS e adotando um alinhamento aos EUA e negociando um acordo de paz com Israel (Acordo de Camp David). Em 1981, vítima de um atentado no país, Sadat morreu e foi sucedido por Mubarak.

 [Caderno de anotações de aula. Professor Luis Francisco]



(5 a 11 de junho de 1967) A Guerra dos Seis Dias 

     Essa foi a guerra que colocou toda a Palestina sob controle israelense. A ofensiva militar de Israel sobre o Egito, a Síria e a Jordânia foi justificada por Tel Aviv como sendo uma ação preventiva, uma vez que o serviço secreto de Israel, o Mossad detectou a organização de uma ação conjunta desses países contra Israel. Além disso, Israel acusou os árabes de darem abrigo aos guerrilheiros da OLP, considerados pelo Estado Judeu como terroristas. Conforme a lógica mais tarde defendida pelo presidente George W. Bush, Estado que dá abrigo aos terroristas é terrorista.
     A guerra foi rápida graças a iniciativa israelense de promover uma ofensiva aérea que abateu a aviação egípcia no solo e destruiu as pistas de decolagem e uma ofensiva terrestre sobre a Faixa de Gaza tutelada pelo Egito e Sinai península egípcia, sobre as Colinas de Golã da Síria e sobre a Cisjordânia sob tutela da Jordânia. A ação israelense foi rápida e contundente não dando chance de resistência aos países árabes.      Não obstante a Resolução 242 de novembro de 1967, na qual ONU condenou Israel e “exigiu” a devolução dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, o Estado Judeu se instalou em toda a Palestina, ocupando a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e ocupou também a Península do Sinai e as Colinas de Golã. De modo que o território israelense, que em 1947 possuía 14,5 mil km² passou a ter uma área superior a 70 mil km² em 1967.

 
(6 a 26 de outubro de 1973) A Guerra do Yom Kippur

   Nessa guerra a iniciativa coube aos árabes, que atacaram de forma inesperada Israel. Pelo norte, os sírios, e pelo sul os egípcios. Apesar da surpresa, na segunda semana do conflito Israel já se tornara dominante, revertendo às expectativas árabes. Com a possível intervenção dos EUA e da URSS, a ONU negociou um cessar fogo assinado em 25 de outubro. A exemplo da Guerra de Suez, a Guerra do Yom Kippur não provocou nenhuma alteração territorial. Israel manteve os territórios ocupados em 1967 sob seu domínio. Esta guerra foi a última entre o Estado de Israel e os Estados Árabes. Isto não significa dizer que tenham terminado os conflitos entre Israel e os árabes, sobretudo com aqueles que assumiram a luta pela libertação da Palestina –OLP- liderada por Yasser Arafat, substituída pela ANP (Autoridade Nacional Palestina) e também por aqueles que defendem uma luta permanente contra Israel como são os casos do Hammas localizado na Faixa de Gaza e o Hezbollah instalado no sul do Líbano.


Alguns sinais de paz

     Nos anos 1970, 1980 e 1990 a questão árabe-israelense ganhou alguns capítulos, que sugeriram a possibilidade de se estabelecer a paz na região como, por exemplo:

1978 – Assinatura do Tratado de Camp David (residência de verão do presidente dos EUA em Maryland) entre o governo egípcio (Anwar Al-Sadat) e o 1º ministro israelense Menahem Begin mediado pelo presidente Jimmy Carter.. Nesse acordo ficou estabelecida a devolução da Península do Sinai ao Egito e em troca o Egito reconheceria o Estado Judeu e abandonaria a luta pela sua destruição. Não há dúvida que esse episódio foi determinante para o atentado que vitimou Al-Sadat em 1981.

1985 – A decisão da OLP de reconhecer o Estado de Israel e admitir a criação de um Estado Palestino. Esta posição foi ratificada por Yasser Arafat num pronunciamento feito na Assembleia Geral das Nações Unidas realizada em 1987 na cidade de Genebra. Essa proposta da OLP não provocou nenhum entendimento com Tel Aviv, mas provocou a formação de grupos dissidentes, que não reconheciam mais a autoridade de Arafat para representá-los e não aprovavam a proposta de paz, posição do Hammas e do Hezbollah.
     O Hammas surgiu em meio a primeira Intifada em 1987 (a Revolta das Pedras) com o apoio da Irmandade Muçulmana do Egito. O grupo se opõe ao Fatah (grupo oriundo da OLP) e prega a fundação do Estado Islâmico Palestino e a extinção de Israel.
     O Hizbollah ou Hezbollah surgiu como uma milícia de resistência à invasão israelense no sul do Líbano. Inspirado e treinado na Guarda Revolucionária Iraniana, o Hezbollah não reconhece Israel e defende a sua destruição.

1993/1994- O Protocolo de Oslo e Acordo de Washington ambos negociados pelo 1º ministro de Israel Yitzhak Rabin e o líder da OLP Yasser Arafat, com a mediação do então Presidente dos EUA Bill Clinton. Nesse acordo ficou estabelecida a devolução da Faixa de Gaza e da cidade de Jericó aos palestinos para que fosse constituído o governo da Autoridade Palestina (ANP) e o consequente reconhecimento palestino do Estado de Israel. Entretanto, o assassinato de Rabin na campanha eleitoral de 1995 seguida da vitória da direita israelense representada no Likud e na formação do governo Netanyahu, inviabilizou o cumprimento de uma agenda de encontros alinhavada pelos líderes em Washington.  De modo que, desde 1995 não houve nenhum avanço nas negociações de paz entre Tel Aviv e a Autoridade
     Em 2013 a Casa Branca enviou o Secretário de Estado Americano John Kerry para promover uma discussão entre o Primeiro Ministro Israelense Benjamin Netanyahu e o Presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas. Essa iniciativa retomava uma pauta que ficou estagnada por vinte anos, ou seja, desde a assinatura do acordo nos Jardins da Casa Branca pelo então Primeiro Ministro de Israel Yitzhak Rabin e o então líder palestino da OLP Yasser Arafat, mediado pelo Presidente Bill Clinton. Esse acordo ratificava a discussão ocorrida antes em Oslo entre os dois líderes.
     Em  2014 contrariando as expectativas de 2013, o que se viu foi uma guerra que vitimou quase dois mil palestinos, em grande maioria, civis e entre os quais muitas crianças. De acordo com o Primeiro Ministro Netanyahu os ataques israelenses não cessarão enquanto as forças do Hammas não forem destruídas. O máximo que se tem visto são pequenos intervalos nos ataques israelenses, que não se configuram como trégua.

A Guerra Civil do Líbano

    Desde a formação do Estado do Líbano, ficou estabelecido um entendimento entre as diferentes correntes religiosas para a composição do governo. Assim cristãos maronitas, sunitas e xiitas, cristãos ortodoxos e drusos deveriam construir um governo de coalizão e de equilíbrios entre os diferentes grupos étnicos e/ou religiosos.
     Entretanto, essa possibilidade de união nacional foi colocada em xeque nos anos 1970 em razão da entrada de refugiados palestinos, egressos da Jordânia, situação não aceita pelos maronitas que exigiam a expulsão dos mesmos. A razão era o fato de que nessa condição os muçulmanos constituiriam uma maioria que poderia quebrar o frágil equilíbrio. Além disso, havia o fato de que entre os refugiados estavam os integrantes da OLP, que não se submetiam a autoridade libanesa.
     Apesar dos esforços da ONU para que se mantivesse a coalizão, em 1975 teve início a guerra civil no Líbano. O conflito ganhou maiores proporções em razão das intervenções síria e israelense. A intervenção israelense em apoio aos cristãos implicou a ocorrência de massacres em Beirute, nos bairros de Sabra e Chatila, em que morreram cerca de 2.000 pessoas em sua maioria, velhos e crianças.
     Entre 2000 e 2005 acendeu uma luz no fim do túnel, Israel e a Síria se retiraram do Líbano, apontando para a reconstituição da coalizão. Entretanto, com a instalação desde 1982, no sul do país, do grupo Hezbollah cuja proposta é a de combater Israel para destruí-lo tem motivado uma série de conflitos naquela região, com ataques israelenses ao Hezbollah, que invariavelmente atingiram a população civil. Desde 2006 há um acordo de cessar fogo, proposto pela ONU, o que não é uma garantia absoluta, mas é que se tem para o momento.

A Guerra Irã-Iraque (1980-1988)

     Entre 1980 e 1988 ocorreu a guerra entre o Irã e o Iraque. Há um consenso entre os analistas, que o conflito foi iniciado pela ofensiva iraquiana liderada pelo Presidente Saddam Hussein cujos propósitos seriam: assumir a condição de voz do mundo muçulmano sufocando os xiitas e incorporar ao domínio iraquiano as áreas petrolíferas iranianas. O ataque iraquiano ocorreu num momento em que o Irã atravessava uma turbulência política provocada pela queda do Xá Reza Pahlevi em razão da Revolução Xiita sob a liderança do Aiatolá Ruholá Khomeini. O argumento usado pelo líder iraquiano foi a acusação aos iranianos de estarem violando a fronteira do Iraque na região do Chat El-Arab, área de escoamento do petróleo do Iraque.
     Essa Revolução representou além de uma ação xiita contra os sunitas, representados no Xá, era também uma atitude contra o ocidentalismo adotado por Reza Pahlevi e a sua submissão aos EUA. O antiamericanismo exaltado pelo Aiatolá foi responsável pela ação de jovens iranianos, que invadiram e ocuparam a Embaixada dos EUA em Teerã, em que fizeram 52 reféns. Esse episódio, já mencionado em capítulo anterior, determinou a ruptura de relações entre os dois países e  o decreto norte americano de embargo econômico do Irã.
     A Guerra terminou em 1988, com assinatura do cessar fogo e sem provocar qualquer alteração territorial iraquiana como pretendia Saddam Hussein.

A Guerra do Golfo (1991)  

      Essa guerra foi resultado da invasão do Kuwait pelos iraquianos em agosto de 1990. Segundo Saddam Hussein, presidente do Iraque, era uma resposta ao fato de aquele país estar vendendo petróleo acima dos níveis estabelecidos pela OPEP ocasionando uma queda nos preços do produto e, desse modo, causando um prejuízo de bilhões de dólares ao caixa iraquiano. Além disso, essa questão Iraque-Kuwait traduzia também uma velha questão territorial, na qual os iraquianos alegavam que o Kuwait era um Estado artificial, criado pelos ingleses em parte do território iraquiano e sobre um poço de petróleo.
     A guerra foi, na verdade, uma ofensiva militar proposta pelo então presidente dos EUA George W. Bush, também aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e constituída por 28 países. O Brasil sob o governo de Fernando Collor não integrou a força conjunta.
     A ONU autorizou a ofensiva em razão de Saddam não retirar as tropas do Kuwait até 15 de janeiro de 1991, como ficou determinado pelo Conselho de Segurança. A operação Tempestade no Deserto, comandada pelo General Collin Powell, em três semanas evacuou o Kuwait das tropas do Iraque. Em meio ao conflito, Saddam bombardeou Israel e a Arábia Saudita. Em 28 de fevereiro de 1991 foi firmado o cessar fogo. A trajetória do Afeganistão
     Em 1979 a URSS promoveu uma intervenção no Afeganistão, na oportunidade Leonid Brejnev, líder soviético, agiu de modo a manter o governo afegão alinhado à Moscou. Nos anos 1980 a presença soviética naquele país enfrentou a resistência dos Mujahidins (guerrilheiros), que recebiam apoio externo dos Estados Unidos, Paquistão entre outros. Na oportunidade os EUA estavam sob o governo Ronald Reagan, cujo propósito, como ele mesmo dizia, era transformar o Afeganistão no Vietnã dos soviéticos.
     Em 1988, o líder soviético Mikhail Gorbatchev acenou com uma proposta de retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, que resultou na assinatura de um acordo plurilateral: URSS, EUA, Paquistão e Afeganistão. Saíram os soviéticos, mas a guerra civil continuou. Nesse contexto, em 1996 a Milícia Talibã assumiu o poder e no ano seguinte foi reconhecido, como governo afegão, pelo Paquistão e Arábia Saudita.
     No final da década de 1990, o Afeganistão foi pressionado para entregar Osama Bin Laden a ONU para ser julgado por crime de terrorismo. Os EUA o haviam responsabilizado pelos atentados a bomba nas embaixadas norte americanas no Quênia e na Tanzânia. De modo a pressionar o governo Afegão, a ONU impôs sanções financeiras ao país, sem nenhum resultado prático.
     Em 2001 ocorreu o fatídico atentado do 11 de setembro, que atingiu as torres gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque, em que foram utilizados aviões comerciais da American e da United Airlines. O governo George W. Bush não teve nenhuma dúvida em acusar Bin Laden, líder da Al Qaeda, como responsável pelo atentado. A partir daí os EUA organizaram uma ofensiva contra o terror. Ainda em 2001 teve início a ofensiva Anglo-Norte Americana sobre a Al-Qaeda e sobre o Talibã. Após a queda do governo Talibã, formou-se um governo de coalizão com o apoio da ONU.

A Guerra do Iraque ou contra o terror (2003)

     Em março de 2003 sem aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, uma coligação anglo-americana iniciou uma ofensiva sobre Bagdá. Depois de se instalar na capital iraquiana, as forças de intervenção foram legitimadas pela ONU. O argumento utilizado pelos Estados Unidos era uma acusação a Saddam de estar construindo armas de destruição em massa, contrariando as sanções aplicadas ao país desde a Guerra do Golfo de 1991.

     Em abril as forças da coligação tomaram Bagdá. Ainda em 20003, em dezembro, Saddam foi capturado em Tikrit sua cidade natal. Julgado por um Tribunal Especial Iraquiano, Saddam foi condenado à morte e executado por enforcamento.