domingo, 4 de maio de 2014

Unidade XX: Os Fascismos

Os Fascismos

Os princípios fascistas

     Entre 1922 e 1939, começando pela Itália com Mussolini, estendendo-se a Portugal em 1932, à Alemanha em 1934 e Espanha em 1939 instalaram-se governos autoritários e ultranacionalistas de orientação fascista.
     Entretanto, chama atenção o fato de o Fascismo não ter apresentado um corpo único de doutrina. Então como ele funcionou? Segundo Benito Mussolini, o líder fascista italiano, a teoria fascista era a prática fascista. Ainda assim nos é possível listar alguns princípios adotados pelos regimes fascistas, instalados no período Entre-Guerras (1919/1939):

Estado totalitário e supremo. Esse princípio traduzia um Estado antidemocrático, que não assegurava as liberdades democráticas, não garantia os direitos da cidadania e considerava o Estado acima do indivíduo;

nacionalismo. Esse princípio compreendia duas ideias: uma que considerava necessário proteger os valores da cultura nacional da influência de valores estrangeiros e inferiores; outra que reconhecia a superioridade de uma nação sobre outra ou outras. Nesse caso a nação superior tinha o direito de subjugar aquelas que lhe eram inferiores;

imperialismo. Princípio que justificava a dominação de uma nação sobre outra;

- militarismo. Esse princípio se justificava como instrumento da expansão imperialista e, em tempos de crise, foi útil para combater o desemprego;

mono partidarismo. Princípio utilizado para construir a harmonia social. Segundo os fascistas um único partido implicaria uma única ideologia condições para a sociedade se tornar um corpo único, ainda que existindo as diferenças sociais;

corporativismo. Esse princípio implicou a extinção dos sindicatos de trabalhadores, que foram substituídos por uma corporação constituída por representantes dos trabalhadores e dos patrões. Na corporação os representantes do trabalho e do capital buscariam, de forma conciliada, definir a relação entre eles. Em caso de divergência entre eles, caberia ao Estado intervir para impor uma solução;

Culto ao líder. Princípio que considerava aquele líder que ocupava o poder, uma referência de virtudes para a sociedade, logo deveria ser admirado, amado e respeitado;

- Elitismo social. Esse princípio considerava que na sociedade existem indivíduos superiores e inferiores. Aos superiores era reconhecida a condição de exercerem o poder e aos inferiores exigia-se a conduta de obediência;

Intervencionismo econômico. Princípio que reconhecia o direito do Estado intervir na economia, não como investidor, mas como regulador da mesma.

Antimarxismo. Esse princípio traduzia a rejeição fascista aos princípios do igualitarismo social e da luta de classes defendidos pelo ideário marxista.

     Com relação aos princípios fascistas, vale ressaltar que na Alemanha Nazista o nacionalismo se confundiu com o racismo. Daí a política de superioridade da raça ariana e da submissão das outras raças, consideradas inferiores.
     Ainda com relação ao nazismo alemão, vale ressaltar que o III Reich não adotou o corporativismo. Na Alemanha coube ao Estado definir as regras de relacionamento entre o trabalho e o capital.






AS EXPERIÊNCIAS FASCISTAS
O Fascismo Ibérico

O Salazarismo
     
     Essas duas experiências fascistas foram as de maior longevidade, estenderam-se até a década de 1970, passaram incólumes pela II Guerra Mundial e desapareceram em decorrência das questões internas e não derrubados por forças externas como nos casos de Mussolini e de Adolf Hitler.
O Salazarismo
     Antônio Oliveira Salazar em 1932 passou de Ministro da Fazenda do governo do General Antonio Carmona iniciado com o golpe político de 1926 a Chefe de Governo numa articulação política ocorrida no interior do governo português. O governo Carmona já adotava uma postura anticomunista, promovendo ações de repressão aos comunistas e socialistas portugueses. A partir da instalação do governo Antonio Oliveira Salazar a intolerância contra os comunistas recrudesceu e repercutiu a influência do fascismo italiano, que inspirava a formação ideológica do casto Salazar.
     Em 1932, Salazar no cargo de Chefe de Governo estabeleceu uma nova Constituição claramente inspirada nas diretrizes do fascismo italiano. Nela foi instituída a censura à imprensa, adotado o monopartidarismo, proibida a organização sindical e a realização de greves. Essas linhas adotadas pelo governo salazarista costuraram uma forte aliança entre o governo e os setores da burguesia portuguesa, a exemplo do que acontecia na Itália e mais tarde na Alemanha. O caráter anticomunista de Salazar e sua formação católica (estudou em seminários) deram a ele o importante apoio da Igreja em Portugal.
     A longevidade do Salazarismo é atribuída, em grande parte, ao fato de Portugal não ter se envolvido na Segunda Guerra Mundial e não ter adotado uma política expansionista, ainda que não renunciasse aos domínios afro-asiáticos, que o governo português classificava como territórios ultramarinos e não como colônias.
     A morte de Salazar em 1970, após um período de enfermidade, produziu um recrudescimento do movimento de oposição ao regime aglutinando a esquerda e os democratas liberais. Em 25 de abril de 1974 ocorreu a Revolução dos Cravos liderada pelos militares do MFA, com a participação da esquerda, que sem derramamento de sangue derrubou o governo Marcelo Caetano (1968-1974). Era o fim do Estado Novo. Nessa Revolução além das forças antisalazaristas de Portugal teve também a participação das lideranças nacionalistas nas “colônias”, o que abriu caminho para a libertação das mesmas após a vitória do movimento. A Revolução dos Cravos reunia três objetivos: redemocratização, superação do atraso econômico e a libertação das colônias. 

O Franquismo
     
     Em 1939 o General Francisco Franco, a frente dos Falangistas (fascistas espanhóis), assumiu o poder instalando uma dos regimes mais extremados e violentos da extrema direita no século XX em que contou com apoio da Igreja Católica, da “alta” burguesia, da classe média, dos latifundiários e de parte dos militares. Esse governo ocupou o poder após um período de três anos de guerra civil, que vitimou mais de um milhão de mortos, em sua maioria operários e camponeses, que lutaram contra os golpistas de Franco, em defesa do governo da Frente de Esquerda, democraticamente eleito em 1936.
     Nessa guerra os Falangistas tiveram apoio externo enviado pelos governos de Mussolini e de Adolf Hitler. O governo Nazista lançou sobre as cidades leais aos republicanos a força de sua aviação de guerra com um poderio devastador, como ocorreu coma cidade basca de Guernica, cuja destruição inspirou o pintor Pablo Picasso na sua obra mais conhecida o mural com o nome da cidade destruída.


             Depoimento de um padre que vivia na Espanha durante a Guerra Civil:
     
     Segundo o Padre Juan Pablo (nome fictício) na Guerra Civil Espanhola, ele, que era apenas um menino naquela época, presenciou o engajamento dos padres na luta contra o comunismo na Espanha. De acordo com esse velho sacerdote, todos os dias após a celebração das missas, o padre celebrante convidava os fieis a permanecerem no templo para juntos rezarem o Terço, invocando a intercessão de Nossa Senhora junto ao seu Filho Jesus para afastar o comunismo da Espanha. Era quase um mantra. Segundo o Padre Juan, ele dentro da Igreja acompanhando sua mãe, ouvia o estrondo provocado pelos tiros de canhão disparados por ambos os lados da guerra.

     A exemplo do Salazarismo, o Franquismo também foi um regime longevo, estendendo-se até a morte do ditador em novembro de 1975. Sua longevidade é atribuída a sua política de não beligerância e sem participação na Segunda Guerra Mundial, ainda que tenha sido enviado um batalhão de voluntários em apoio aos alemães.
     Após a Segunda Guerra o Franquismo contou com a ajuda dos Estados Unidos em razão da política de contenção do comunismo da Doutrina Truman. Com o apoio dos EUA, o governo Franco não só teve acesso a recursos injetados na economia espanhola, quebrando o seu isolamento, como se livrou de acusação de crime de genocídio em razão dos milhares de espanhóis mortos pela repressão do regime.
     Entretanto, até o fim o Franquismo não impulsionou a economia espanhola, que permaneceu num nível de desenvolvimento inferior até mesmo das economias atingidas pela destruição da Segunda Guerra. Além disso, o caráter anti democrático se manteve até o último momento.
     Em novembro de 1975, vítima de causas naturais o ditador morreu. A sucessão se fez pela via monárquica, como o próprio Franco havia decidido nos anos 1940, com a ascensão ao trono do Rei Juan Carlo I. Com a democratização, a Espanha venceu o  atraso econômico através de um pacto proposto pelo 1º Ministro Adolfo Suárez.

    
                                             O Pacto de Moncloa
    
     O Pacto de Moncloa foi firmado em 25 de outubro 1977, na Espanha, depois de 35 anos de ditadura do General Francisco Franco, que morreu em 1975. O Pacto de Moncloa foi assinado por representantes de todos os partidos com participação no Congresso, sindicatos e outros setores que selaram o acordo, para combater a alarmante crise econômica que a Espanha enfrentava e também garantir o processo que instituiu as bases legais do moderno Estado democrático espanhol. Em menos de um ano, houve uma expressiva queda da inflação espanhola.
     Os resultados obtidos com o pacto social, como o controle da inflação, foram decisivos para o crescimento econômico, promovido pelo governo socialista, do 1º Ministro Felipe Gonzalez, instalado nas eleições de 1982.

( Caderno de anotações de aula. Professor Luis Francisco)


O fascismo italiano

     Em outubro de 1922, em razão de um acordo de centro-direita, com apoio da alta burguesia, da classe média e dos militares, o líder do Partido Nacional Fascista Benito Mussolini foi indicado para assumir o cargo de 1º ministro italiano em meio: a uma situação de crise econômica herdada da I Guerra (desemprego e inflação); de frustração com a exclusão da partilha das colônias alemãs confiscadas após a I Guerra e de manifestações operárias organizadas pelos sindicatos e partidos de esquerda. A bem da verdade o PNF obtivera nas eleições daquele ano uma representação inferior a 4% do Parlamento, o que em tese afastava qualquer pretensão de Mussolini de ocupar o cargo de Chefe de Governo.


- Dias antes de ser oficializada a indicação de Mussolini para o cargo, os fascistas (camisas pretas) fizeram uma grande passeata, cerca de 50 mil deles, conhecida como Marcha sobre Roma em que exigiam que o poder fosse entregue ao seu líder;
- De 1922 a 1925, Mussolini governou a Itália dentro dos limites constitucionais. Logo não se considera como um período do regime fascista, mas sim de um governo fascista.

(Caderno de anotações de aula. Professor Luis Francisco)





A fascistização italiana (1925/1943)

     Entretanto, com o resultado obtido pelo partido nas eleições de 1924 (64,9% das cadeiras do Parlamento) Mussolini pode impor a fascistização à Itália através de leis que o “parlamento” de maioria fascista não rejeitou. Assim, de1925 a 1943, a Itália foi enquadrada no ideário fascista: totalitarismo, nacionalismo, militarismo, imperialismo, corporativismo, mono partidarismo, anticomunismo, intervencionismo econômico, culto a personalidade, elitismo social e harmonia social.

Com relação a esses dezoito anos de fascismo vale destacar:

- o acordo com a Igreja Católica (Tratado de Latrão de 1929) assinado com o Papa Pio XI, no qual a Igreja reconhecia o Estado Italiano e recebia em troca a soberania sobre o território do Estado do Vaticano, pondo fim ao longo período de distanciamento política provocado em 1870 com a anexação da Região Romana pelo Estado Italiano criado naquela oportunidade;

- a militarização e o expansionismo ocorridos nos anos 1930 como forma de enfrentamento da crise econômica que se abateu sobre o mundo e sobre a Itália em particular.

Com relação ao expansionismo destacam-se a intervenção na Líbia em 1932 e a invasão da Etiópia em 1935.
     A invasão da Etiópia gerou uma reação da Liga das Nações (o país africano era independente e membro da LDN) que condenou a Itália e exigiu a imediata retirada das tropas. De modo a pressionar o governo italiano, a Liga determinou o embargo do carvão para o país. No entanto, a medida adotada pela Liga tornou-se inócua porque o governo alemão (governo nazista do III Reich) ignorou-a. Esta atitude nazista foi fundamental para que os italianos dominassem Adis-Abeba. A partir daí firmou-se uma aliança entre os dois países através do Pacto de Aço assinado em 1936 que deu origem ao Eixo Roma-Berlim.

O Nazifascismo alemão.

     O fascismo na Alemanha instalou-se em 1934 quando Adolf Hitler, líder do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, apeado na chancelaria alemã desde 30 de janeiro de 1933, pode acumular as funções de chanceler com as de presidente após a morte do presidente Hindemburgo ocorrida em 1934.

     A compreensão do nazifascismo alemão passa pela análise da República de Weimar, instalada em 1918, após a renúncia do Kaiser Guilherme que provocou a queda do II Reich. A República de Weimar (1918/1934) período antecedente ao nazifascismo na Alemanha. Ao longo dos seus 16 anos a República que sucedeu o II Reich (1871-1918) enfrentou três fases:

1ª fase (1918-1923) Instabilidade econômica e política

     Nessa fase a República enfrentou a crise do pós-guerra (desemprego e hiperinflação), agitação social e ameaças de revolução e de golpes, como:

1919- a Revolução Spartacista promovida por uma facção do PC Alemão liderada por Rosa Luxemburgo;

1920- o Golpe do Dr. Kapp representante de grupos da extrema-direita vinculada ao II Reich;

1923- o Putsch de Munique – o golpe da cervejaria – liderado pelo general Luddendorf e pelo líder do pequeno partido de extrema-direita (Partido Nazista) Adolf Hitler.
Hitler foi preso e, na prisão, escreveu o livro Mein Kampf nos meses que esteve encarcerado.

A República, ora apoiada pela direita e ora apoiada pelos setores populares, sobreviveu a cada uma dessas ameaças.





2ª fase (1924-1930) estabilidade política e início da recuperação econômica

     Esses foram, com certeza, os anos mais tranquilos da República. Essa estabilidade foi resultado da injeção de capitais externos no país, graças a dois planos internacionais: Dawes em 1924 (norte americano) e Young em 1929 (britânico). A injeção de capitais permitiu aos alemães avançarem no processo de reconversão de sua economia.

3ª fase (1930-1934) instabilidade econômica (Grande Depressão) e a polarização ideológica.

     A década de 1930 começou numa turbulência econômica provocada pela Depressão dos EUA. Em razão da interrelação existente da economia europeia com a norte americana, a crise não demorou a estender-se ao velho continente, atingindo em cheio a economia alemã, que ainda não havia se recuperado integralmente dos efeitos da Primeira Guerra.

     A fragilidade da economia alemã provocou um quadro de convulsão social (o desemprego atingiu cerca de 30% da mão-de-obra ativa do país) que favoreceu a ascensão de grupos antiliberais tanto da esquerda quanto da direita. Foi nesse ambiente que aconteceram as eleições de 1932 para a presidência da República e para o Reichstag (Parlamento Alemão).

     Para a presidência foi reeleito o presidente Hindemburgo derrotando a candidatura de Adolf Hitler. Para o Reichstag não foi formada uma maioria (a extrema-direita conseguiu cerca de 40% e a esquerda cerca de 30%) o que dificultaria a formação de um governo. A solução foi constituir uma aliança de centro-direita aprovada pelo presidente Hindemburgo e apoiada pela alta burguesia e pela classe média, ambas amedrontadas pela dureza da crise e pelo avanço da esquerda.
    Em 30 de janeiro de 1933 Hitler foi indicado para a chancelaria alemã para a formação de um governo que enfrentasse a crise e a ameaça representada pela esquerda.
     Ainda em 1933, o chanceler livrou-se dos comunistas, acusando-os de responsáveis do incêndio do Reichstag ocorrido naquele ano. Em 1934 com a morte do presidente Hindemburgo, o chanceler acumulou as funções sem que houvesse qualquer resistência à sua pretensão.

A Nazificação alemã (1934/1945).

    Assim, de 1934 a 1945 Hitler teve a oportunidade de Nazificar a Alemanha. O primeiro passo foi extinguir a República e criar o III Reich (um Estado totalitário, policial e racista).

     Em 1935 através das leis de Nuremberg transformou os judeus em subcidadãos e iniciou a colocação deles nos guetos. Em seguida adotou uma linha de confronto com o Tratado de Versalhes (ele o denominava DIKTAT) militarizando a Alemanha e iniciando uma ação expansionista sob a justificativa da doutrina do espaço vital (pregava a integração das comunidades alemãs dispersas na Europa sob a proteção do III Reich).

     Ao mesmo tempo, o III Reich adotou uma política econômica intervencionista que controlava o trabalho e orientava a atividade produtiva. Paralelamente inaugurou uma política externa agressiva, que contribuiu para uma escalada rumo a 2ª Guerra Mundial. Essa agressividade nazista contou, a seu favor, com uma política de apaziguamento adotada pelas chamadas democracias liberais lideradas pela Inglaterra e pela França. Esse apaziguamento justificado como um esforço pela paz, mas para alguns uma estratégia ocidental que apostava em um confronto entre o Estado Nazista e a URSS haja vista o caráter anticomunista do III Reich.










A militarização e a política externa do Reich.

     Associado ao grande capital, o III Reich iniciou uma ofensiva militarista e expansionista destacando-se:

- A remilitarização da Renânia (1935);

- A assinatura do Pacto de Aço com Mussolini (1936);

- O envio de apoio militar a Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola ( 1936/39);

- A anexação da Áustria, em março de 1938, ao III Reich (Anschluss)

- A negociação, em setembro de 1938, com os franceses e ingleses no Pacto de Munique que permitiu a
incorporação dos Sudetos Tchecos;

- A assinatura, em 1939, com o governo japonês do Pacto Anti-Komintern, originando o Eixo Roma-Berlim-Tóquio;

- A assinatura, em 23 de agosto de 1939, com Stalin do Pacto de Não-Agressão (Pacto Ribbentrop-Molotov), que garantiria a neutralidade soviética na guerra e estabeleceu a divisão da Polônia entre os dois;

- 01 de setembro de 1939 a invasão da Polônia dando início a II Guerra Mundial.


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