A Revolução Industrial (Século XVIII/XIX)
No processo de transição do Feudalismo para o
capitalismo, a Revolução Industrial representou no século XVIII a concretização
dessa transição em nível econômico, com a consolidação da economia de mercado
apoiada na relação de produção assalariada e na propriedade privada dos meios
de produção.
Com relação às mudanças decorrentes da
Revolução Industrial incluem-se:
- o aumento da capacidade produtiva com a inserção da máquina movida por
uma fonte de energia representada pelo vapor obtido do carvão;
- o aumento da acumulação de riqueza nas mãos dos proprietários dos
meios de produção, a burguesia industrial em razão da redução do custo da produção
decorrente do menor tempo utilizado e menor número de trabalhadores alocados na
fábrica;
- o aumento da
exploração da recém-criada classe proletária (denominação dos trabalhadores das
fábricas), com ampliação da jornada de trabalho (14 a 16 horas/dia), com a
redução da massa salarial (utilização de menos trabalhadores), com a presença
de mulheres e de crianças na unidade fabril, cujos salários eram inferiores aos
dos trabalhadores adultos. Além disso, o proletariado não tinha repouso semanal
assegurado, não tinha nenhuma proteção em caso de acidentes que provocavam
lesões temporárias ou definitivas e nem garantia de salário mínimo. Se não
bastassem essas situações, acrescentem-se as condições insalubres que os
trabalhadores enfrentavam nas fábricas e em suas moradias, os cortiços
(habitações coletivas e precárias).
Essa situação de exploração que subjugou
o proletariado, provocou a sua reação, e, por volta de 1810, deu início ao
movimento operário com o movimento ludita ou dos quebradores de máquinas,
inaugurando a longeva luta entre o trabalho e o capital.
“[...] Mas o que é que o capitalista compra para
vender com lucro? Entradas de teatro? lã? Carros? Chapéus? Casas? Não. Não é
nenhuma dessas coisas, e ao mesmo tempo é parte de todas elas. Converse com
um trabalhador da indústria. Ele lhe dirá que o patrão lhe paga salário pela
sua capacidade de trabalhar. É à força de trabalho do operário que o
capitalista compra para vender com lucro, mas é evidente que o capitalista
não vende a força de trabalho de seu operário. O que ele realmente vende – e
com lucro – são as mercadorias que o trabalho do operário transformou de
matérias primas em produtos acabados. O lucro vem do fato de receber o
trabalhador um salário menor do que o valor da coisa produzida.
O capitalista é dono dos meios de produção –
edifícios, máquinas, matérias primas, etc.; compra a força de trabalho. É da
associação dessas duas coisas que decorre a produção capitalista [“...]”.
(Huberman, L. História da Riqueza do Homem. Ed.
Guanabara. 21ª Ed. P.157)
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“Quaisquer que tenham sido as causas da Revolução
Industrial, ela moldou profundamente o desenvolvimento da economia. Mais
importante é o contexto. E foi nesse contexto que surgiram as duas figuras
mais celebradas da história desta disciplina: Adam Smith e, três quartos de
século depois, Karl Marx. Um foi o profeta dos seus feitos e realizações, e a
origem das normas que a norteiam a partir de então; o outro foi o crítico do
poder que ela outorgava àqueles que possuíam o que viria a ser chamado meios
de produção, e da pobreza e opressão a que ela obrigava os
trabalhadores.
( GALBRAITH, John K. O Pensamento econômico em
perspectiva )
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O
pioneirismo industrial inglês no século XVIII
Por volta de 1760 teve início a industrialização
na Inglaterra, com a entrada em funcionamento da primeira máquina movida a
vapor na produção têxtil. Essa primazia foi possível, graças a existência das
precondições econômicas, como:
* acumulação de capitais nas mãos da burguesia ao longo da fase
mercantilista, através das relações mercantis internacionais, do tráfico de
escravos, da prática da pirataria, da exploração colonial, do Cercamento dos
campos e do desenvolvimento das manufaturas;
* da disponibilidade de numerosa mão de obra nas cidades inglesas
liberada no campo por força do cercamento, da utilização de crianças e mulheres
e do próprio crescimento populacional;
* da existência de recursos minerais – carvão e ferro – localizados no
Norte da Inglaterra (a Inglaterra Negra), que garantia fonte de energia e
matéria prima para a produção industrial;
* o domínio de colônias, que representava garantia de escoamento de
produtos industrializados e obtenção de matéria prima
Além das condições econômicas, acrescente-se a
instalação, em 1689, do sistema parlamentarista de governo pela Declaração de
Direitos (Bill of Rights) resultante da Revolução Gloriosa (1688/89), que
colocou o poder nas mãos da burguesia e da gentry, grupos majoritários na
Câmara dos Comuns.
As fases da Revolução Industrial
Mesmo considerando-a um processo contínuo e
inacabado, face ao progresso científico, que gera a cada dia novos produtos e
novas tecnologias, podemos distinguir na Revolução Industrial três fases:
(+/- 1760 a +/- 1850 ) Primeira Revolução Industrial.
Esse período foi marcado pelo desenvolvimento
dos setores têxtil e siderúrgico, pela utilização do vapor como principal fonte
de energia, pelo fato de ter sido um processo inglês por excelência e por
ter-se estendido à Bélgica e à França.
As
máquinas da Primeira Revolução Industrial
Em 1767 James Hargreaves criou a spinning-jenny uma máquina de
fiar.
Em 1769 foi criada a fiandeira hidráulica
(water frame) capaz de produzir fios de algodão mais resistentes.
Em 1785 James Watt e Matthew Boulton aprimoraram
a máquina de fiar com uso do vapor substituindo a força humana.
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(+/- 1850 a +/- 1945) Segunda Revolução Industrial
Essa fase, do ponto de vista das inovações técnicas
se traduziu pela incorporação da eletricidade, do petróleo e seus derivados e
do aço na produção industrial. Nesta fase houve o desenvolvimento de inúmeros
setores como o químico, o farmacêutico, o petroquímico, o elétrico, o da
construção civil, o de transportes e o bélico.
A Segunda Revolução Industrial também se
caracterizou pelo surgimento das grandes empresas num processo de concentração
de capitais e de empresas como os trustes e as holdings. Outra característica
do período foi a intensificação do processo imperialista sobre a Ásia, a África
e a América Latina promovida pelas nações industrializadas como a Inglaterra, a
França, a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos, a Rússia e o Japão.
(+/- 1945 ...) Terceira Revolução Industrial ou Técnico Científica
Essa etapa se caracteriza pela utilização de novas
fontes de energia como a nuclear, seja para fins pacíficos ou militares e pelo
extraordinário avanço da tecnologia no campo das comunicações através de
satélites artificiais, da robotização, da informática, das viagens espaciais
que incluem a ida do homem à Lua, a instalação de estações orbitais, envio de
um pequeno robô a Marte e a colocação em órbita do super telescópio Hubble, da
pesquisa e produção da nanotecnologia e utilização de matérias primas
sintéticas.
O
uso da energia nuclear para fins militares
A
data de referência para o início da Terceira Revolução Industrial em 1945
coincide, não por acaso, com o lançamento pelos Estados Unidos de duas bombas
atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki causando a
morte de cerca de 180.000 pessoas em 06 e 09 de agosto respectivamente.
Ainda
que não tenha havido outra ação dessa mesma natureza, não se ignora o volume
de recursos investidos por vários países para a produção da tecnologia
nuclear para fins bélicos, entre eles, países como a Índia e o Paquistão
que mantém uma perigosa rivalidade desde os anos 1950, devido a divergência
quanto as fronteiras da Caxemira definidas em 1947 pelos ingleses que colocaram
cerca de 2/3 da região sob domínio da Índia o que é contestado pelos
paquistaneses, que consideram que a Caxemira devesse ser integralmente
muçulmana. Há outros países como o Irã, que desenvolvem o processo de
beneficiamento do urânio sob o argumento de que é para fins pacíficos. Será?
[ CORREIA, L. F. S. Caderno de anotações ]
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Os efeitos da Revolução Industrial
Considerando-se a Revolução Industrial, como um
processo contínuo e inacabado e capaz de representar a relação entre o homem e
as inovações tecnológicas e entre o capital e o trabalho, ela apresenta como
seus principais efeitos:
- o aumento da produção pela utilização de máquinas associadas a uma
fonte de energia, inicialmente o vapor e posteriormente a eletricidade;
- a aceleração do êxodo rural, à medida que passou a atrair em maior
escala o homem do campo, sobretudo aquele que perdera a terra com o fim das
terras comunais provocado pelo cercamento dos campos;
- a afirmação do capitalismo como Modo de Produção e a ascensão da
burguesia, dona dos meios de produção, como classe dominante;
- a concentração de empresas e de capitais, que contribuiu para o
surgimento do capital monopolista e do capitalismo financeiro;
- a realização da expansão imperialista, que deu origem ao
neocolonialismo sobre a Ásia e África;
- a formação da classe operária ou proletária, classe trabalhadora
utilizada como mão de obra assalariada;
- a organização do movimento operário como expressão da reação da classe
trabalhadora ao regime de exploração a que estava submetida.
O
movimento operário no século XIX e as ideologias
O surgimento da produção mecanizada
produziu mudanças em quase todos os setores da formação social, com relação
aos trabalhadores, estes sentiram o impacto da industrialização representado
na sua transformação em mão de obra assalariada explorada pelo capital e
submetida às péssimas condições e de trabalho e de moradia, como:
- longas jornadas de trabalho entre 12 e 14
horas/dia;
- salários insuficientes para atender as
necessidades básicas dos trabalhadores;
- instalação das fábricas em porões insalubres,
sem luz solar e sem ventilação;
- inexistência de repouso semanal;
- inexistência de proteção para o trabalhador em
caso de acidentes;
- utilização do trabalho infantil e feminino;
- utilização de moradias coletivas, ou seja,
cortiços que abrigavam um número de pessoas muito acima da capacidade deles.
A partir de 1810 teve início na
Inglaterra do movimento de reação dos trabalhadores. Inicialmente denunciando
as condições de trabalho e, em seguida, promovendo invasões às fábricas e
quebrando as máquinas, era o movimento Ludita ou dos
Quebradores de Máquinas liderado pelo operário Ned Ludham.
Em torno de 1824 começaram a ser
formadas as associações de trabalhadores –Trades Unions- que
desenvolveram nos trabalhadores o sentimento de classe e propiciaram a eles
uma luta política em torno de suas reivindicações como força de trabalho e
como cidadãos, era o movimento Cartista. O Cartismo defendia como
direitos sociais: o salário mínimo, a limitação da jornada de trabalho, a
eliminação do trabalho infantil, a regulamentação do trabalho feminino e o
repouso semanal e como cidadãos o direito de elegerem seus representantes no
Parlamento com a utilização do voto universal para os homens, instituição do
voto secreto, pagamento aos membros da Câmara dos Comuns, fim da exigência de
propriedade para os candidatos e igualdade nos distritos eleitorais.
Na segunda metade do século XIX, houve o
surgimento dos sindicatos, uma forma de organização na qual os trabalhadores
revelavam um grau de ideologização inexistente nas fases anteriores. Essa
ideologização foi impulsionada pelo surgimento de algumas correntes de pensamento
antiliberais, que além de embasarem a luta dos trabalhadores contra a
exploração do capital, em alguns casos inspiraram a luta revolucionária para
destruir a ordem capitalista.
No campo ideológico e revolucionário se
destacaram o socialismo marxista e o anarquismo. Ambas propunham a construção
da sociedade igualitária pela via da luta de classes entre o trabalho e o
capital. A principal diferença entre elas estava na concepção do processo
revolucionário, para os anarquistas era possível construir o comunismo a
partir das ruínas do capitalismo de uma forma contínua e direta. Isso
contrariava a hipótese marxista de revolução, que admitia uma etapa de
transição entre o capitalismo e o comunismo, a ditadura do proletariado ou o
socialismo.
O acirramento das relações entre o
trabalho e o capital, provocou uma manifestação da Igreja Católica através da
publicação da Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII em 1891. Nela a
Igreja reconhecia o direito dos trabalhadores de se organizarem e lutarem pelas
suas conquistas, mas não considerava a solução comunista como ideal. Na
Encíclica, o Papa propunha a permanência do capitalismo, mas defendia que ele
devesse promover a justiça social. Essa proposta ficou conhecida como
Doutrina Social da Igreja ou Catolicismo Social.
[ Correia,
L. F. S. Caderno de anotações de sala de aula ]
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Artigo do Estatuto da Grande Confederação
Nacional de Sindicatos da Inglaterra criada em 1834 com a fusão de algumas
associações de trabalhadores.
“Que
embora o intuito da Confederação, seja em primeiro lugar, elevar os salários
dos trabalhadores, ou impedir qualquer redução futura, e diminuir as horas de
trabalho, a sua finalidade máxima e última há de ser a de estabelecer os
direitos supremos da indústria e da humanidade, instituindo medidas
destinadas a evitar definitivamente que os setores ignorantes, ociosos,
inúteis da sociedade exerçam esse indevido controle sobre os frutos de nossa
atividade que, através da atuação de um pernicioso sistema monetário, possuem
hoje em dia: e que, consequentemente, os membros da Confederação não devem
perder nenhuma oportunidade de cooperar, estimulando e ajudando uns aos
outros, na criação de uma ordem de coisas diferente, em que só a parcela
realmente útil e inteligente da sociedade detenha a direção de seus negócios,
e em que indústria e probidade, bem orientadas encontrem sua justa distinção
e recompensa, e o ócio perverso seu bem merecido desprezo e penúria”.
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